Vem Senhor, estamos com saudades

"Atenta desde os céus e olha desde a tua santa e gloriosa habitação. Onde estão o teu zelo e as tuas obras poderosas? A ternura das tuas entranhas e das tuas misericórdias detém-se para comigo! Mas tu és nosso Pai, ainda que Abraão nos não conhece, e Israel não nos reconhece. Tu, ó SENHOR, és nosso Pai; nosso Redentor desde a antiguidade é o teu nome´ (Isaías 63:15-16).

Isaías recebeu uma visão do futuro do seu povo. Viu os babilónios a chegar, devastando a terra, levando o povo para o cativeiro, e deixando a sua terra natal totalmente desolada e deserta. Viu o povo definhando no cativeiro, e ansiando pela sua pátria enquanto os anos sombrios se passavam uns após os outros. Finalmente, viu também o povo restaurado a voltar para a sua terra, e entendeu que esta restauração era símbolo do Messias que viria estabelecer o reino eterno.

Na passagem acima, o profeta orava depois de visualizar o seu povo no ponto mais baixo possível. O Espírito o moveu a fazer a oração que estaria nos corações e lábios do povo naquele horrível momento que estava por vir. A essência desta oração se expressa nestas palavras comoventes: `Oh! Se... descesses (Is 64.1). Todo o resto, ou conduz para esta petição, ou flui a partir dela.

No restante da oração, o profeta está a apresentar argumentos para persuadir Deus a voltar ao seu povo em bênção e poder. São argumentos que poderíamos usar para persuadir um membro da família que está ofendido, ou distante, a voltar e restaurar um relacionamento quebrado.

Ao seguir os argumentos de Isaías, veremos certamente, até com uma certa perfeição, como se enquadram exactamente na nossa situação hoje. Como Israel, estamos longe de Deus e não estamos experimentamos as suas bênçãos. Estamos desesperadamente necessitados da sua presença que renova e aviva. Comecemos desde já a clamar com Isaías: `Oh, desce Senhor!´

Armemo-nos com os mesmos argumentos que ele usou, e levantemos as nossas vozes aos céus com tal quantidade, e com tamanha frequência e intensidade, que Deus será movido a nos visitar em grande poder. Unamos as nossas vozes para compor este coral crescente que constantemente chegará até às portas do Trono de Deus. Decidamos agora mesmo a não nos dar descanso e a não dar descanso a Deus até que o povo do Senhor seja por `objecto de louvor na terra´ Is 62.6,7).

O primeiro argumento que Isaías utilizou para persuadir Deus a descer está nas primeiras palavras da sua oração. Ele parece dizer: `Desce, Senhor, estamos com saudades!´ Você já sentiu saudades de alguém? Então sabe como é sentir a sua mente atraída às características e acções especiais daquela pessoa. Talvez comece a pensar de repente do seu sorriso, ou do calor de um toque singelo. Talvez até se sinta culpado por não ter realmente dado valor, ou atenção, à presença daquela pessoa especial.

Se for assim, deve poder sentir a profunda dor nas palavras de Isaías, ao descrever as coisas de que o povo sentirá falta, por conta da ausência de Deus. Em primeiro lugar, ele fala de...

1. Sentir Falta do Sorriso de Deus
`Atenta desde os céus,´ ele diz. Como é apropriado começar aqui. Ele reconhece que o povo não receberá nada, enquanto primeiro não conseguir que Deus olhe e atente para a sua miserável condição.

Ele compreendeu que Deus, com efeito, escondeu o rosto do seu povo. Deixou-os para `resolver a situação ao seu próprio modo´ sozinhos, pois imaginavam que podiam prosseguir sem Deus, e por isso se precipitaram para o pecado como os animais que correm para a água para se saciar. A nossa imagem popular de Deus é Ele sentado no céu, sorrindo bondosamente para nós, indiferente das nossas escolhas ou acções. Parece que nos esquecemos daquilo que Isaías revela sobre Deus: que a sua habitação é `santa e gloriosa´ (Is 63.15).

Tornamo-nos abertos e liberais (permissivos) em relação ao pecado, e para tudo o que desagrada a Deus, fechamos os nossos olhos ou encontramos um argumento justificativo; no entanto Deus continua a detestar o pecado, Ele não é permissivo. Podemos negociar com o pecado, e até chegar a fazer acordos de paz com ele, mas Deus jamais o fará. Quando começamos a sorrir com benevolência para o pecado, Deus deixa de sorrir para nós, e vira o Seu rosto para longe de nós.

Isto o surpreende? Não deveria. Há muito tempo, Deus definiu a sua atitude sobre o pecado na vida do seu povo. Não deixou dúvida alguma sobre este assunto, no início da história do povo de Israel. Foi assim que prometeu tratar com os seus pecados: Esse dia, a minha ira se acenderá contra ele; desampará-lo-ei e dele esconderei o rosto, para que seja devorado; e tantos males e angústias o alcançarão, que dirá naquele dia: Não nos alcançaram estes males por não estar o nosso Deus no meio de nós? Esconderei, pois, certamente, o rosto naquele dia, por todo o mal que tiverem feito, por se haverem tornado a outros deuses´ Deuteronómio 31:17-18).

Nada satisfaz ou emociona mais do que sentir o agrado de Deus na nossa vida; do mesmo modo, nada é mais pavoroso do que viver sem o seu sorriso, sem o SEU “bem está servo bom e fiel”. Não é por esta razão que a igreja está no estado actual? Apesar de contar com toda espécie de promoção engenhosa, programas atraentes, e pregadores eloquentes, não está a experimentar a plenitude das bênçãos de Deus; Ele se entristeceu por causa dos seus pecados e escondeu o rosto dela.

Oremos com fervor, para que o Deus da misericórdia, o Deus da graça, volte a manifestar o esplendor da sua face! Mas, além de sentir falta do sorriso de Deus, Isaías também fala de...

2. Falta da Mão Sustentadora de Deus
Deus tem demonstrado o Seu poder vez após vez em favor do povo de Israel. De facto, antes de iniciar esta grande oração, o profeta recontou a maior manifestação do poder de Deus de todos os tempos em favor de Israel. Foi quando milagrosamente abriu o Mar Vermelho e permitiu que escapassem de Faraó e do seu exército (Is 63.12-14). Mas agora nada estava mais claro para Isaías do que isso: que Deus estava a reter o Seu povo. Enquanto contemplava o futuro, via Israel a ser derrotado, o belo templo sendo reduzido a um montão de ruínas, a maioria do povo a ser levado como escravos para Babilónia. Uma pergunta corria pela sua mente:

Onde está Deus? (v. 11). Então, quando faz esta oração, imediatamente pergunta: `onde estão o teu zelo e as tuas obras poderosas?´ Ele quer saber porque razão Deus não demonstrou a Sua energia e poder em favor do Seu povo, como fizera em tantas ocasiões anteriores; e por que estava a deixar Israel para resolver sozinho o problema. O povo de Deus já ouviu muitas vezes o mundo insultá-lo, dizendo: `onde está o teu Deus?´ Salmo 43.2,10; 79.10; 115.2). Mas é algo muito triste quando o povo de Deus precisa fazer esta pergunta a si próprio.

Somos felizes se podemos responder aos cépticos, mostrando indicações actuais do poder de Deus. Mas o que devemos fazer quando Deus retém de nós o Seu poder, e não podemos apontar nenhuma evidência? Para manter credibilidade no mundo, a igreja precisa ter o poder de Deus. Ela está envolvida numa grande batalha espiritual, e somente o poder de Deus a capacitará a prevalecer. Técnicas e sabedoria humanas simplesmente não são capazes de enfrentar o desafio.

Tentar fazer este tipo de obra sem o poder de Deus é como tentar quebrar enormes rochas de granito somente com as nossas mãos. O problema é que a igreja tenta subsistir com o seu próprio poder. Confia nas suas próprias habilidades. A sabedoria humana pode produzir muitas coisas, e a igreja quer passar a imagem de que isto vem da mão de Deus, mas o mundo não o aceita.

Ainda nos bombardeiam com a pergunta perturbadora: `Onde está o teu Deus?´ se ficarmos quietos, e examinarmos o nosso coração, seremos obrigados a admitir que as muitas coisas que estamos a produzir são substitutos baratos e rotos para o verdadeiro poder de Deus. Seremos compelidos a clamar a Deus: `Onde estão o teu zelo e as tuas obras poderosas?´ Finalmente, na abertura desta oração, Isaías fala também de...´

3. Sentir Falta do Coração Compassivo de Deus
Ele pergunta: `A ternura das tuas entranhas e das tuas misericórdias detém-se para comigo?´ A expressão `ternura das tuas entranhas´ uma expressão hebraica que significa anseio do coração, ou compaixão.

Isaías estava a fazer a pergunta inevitável. Se Deus esconde o Seu rosto, e retém o Seu poder, isto significa que Deus já não ama os seus filhos? Enquanto Isaías começa a ponderar a questão, imediatamente percebe que Deus ainda é o seu Pai. Abraão e Jacob, os patriarcas segundo a carne, poderiam não querer reconhecer como filhos este povo que estava aí, tamanho era o seu pecado, mas o nome de Deus é eterno. Por outras palavras, Ele é coerente com a sua natureza.

Por causa do seu carácter imutável, Isaías sabia que Deus perdoaria a Israel pelos seus pecados, se houvesse arrependimento. Esta certeza é que incentivava Isaías a fazer a sua oração. Mas há uma verdade maior aqui que não podemos ignorar. Deus pode nunca deixar de nos amar quando entramos em pecado, mas de facto retém suas expressões de amor, e assim nos faz imaginar que nunca seremos amados de novo.

Podemos argumentar e convencer-nos que Deus ainda nos ama, o que é uma conclusão verdadeira e boa, mas nunca substituirá as manifestações palpáveis do amor de Deus em si. Quanto melhor seria não ter de nos convencer que Deus nos ama, e ter na nossa experiência diária as abundantes manifestações do seu amor! Estas palavras iniciais da oração de Isaías lembram-nos de como as nossas vidas deveriam ser. Deveríamos estar conscientes do sorriso de Deus, deveríamos ver o poder de Deus, e deveríamos poder nos deleitar no amor de Deus. Nada é melhor do que viver assim.

E deveríamos reconhecer novamente como é terrível perder essas coisas. Muitos terão de admitir que as perdemos, que estamos vivendo muito abaixo do lugar onde deveríamos estar. Se este é realmente o caso, paremos e pensemos na grandeza das coisas que estamos a perder, e agora mesmo comecemos a clamar: `Desce, Senhor! Estamos com saudades!´

José Carlos Costa

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